Lembrem que no post passado falei que tinha conhecido gente muito legal em Franz Josef? Então, uma delas foi uma senhora, americana de um pouco mais de 60 anos, super descolada, que estava viajando sozinha e se hospedando em albergues. E daí que conversa vai e conversa vem, ela me perguntou como eu estava viajando e para onde eu iria. Respondi que estava hitchhiking rumo ao Norte. E daí que ela me deu uma passagem de Greymouth (cidade vizinha a Hokitika, para onde segui depois de Franz Josef) para Nelson (meu destino final na Ilha Sul), seis horas e meio de viagem. Assim, ela me deu. Simplesmente! O que eu deveria fazer era estar no dia e hora marcada e dizer que me chamava Paulete Buck!
O ônibus partiria às 13h15 de uma quarta-feira. Acordei em Hokitika e precisava ir para Greymouth, 57km de distância. O problema é que chovia muuuuuuuuuuito e seria difícil tentar uma carona. Sem problemas, tomaria um ônibus. Isso se tivesse passagem disponível. O que fazer?! Bom, não teria jeito se eu quisesse usar o ticket ganho, teria que partir. E daí que mesmo com chuva fui... primeiro tentei me resguardar embaixo de algumas marquises, na esperança da chuva passar. Nada.
Fui andando e ficando completamente ensopada! Mas totalmente. E a mochila que era pesada foi ficando mais pesada... e o povo que não parava, daí mesmo que não parava... chegou um momento que parei no acostamento e pensei “beleza, não tem jeito, vou perder essa passagem, não gastei nada com ela mesmo. É isso, vou voltar, me secar e decidi o que fazer”. Mas não consegui voltar, simplesmente. E fiquei ali, parada, por alguns segundos... e continuei andando... pingando e andando. Sabia que em algum momento alguém pararia. Sempre alguém para em algum momento. E não andei mais que 10 minutos e uma mulher em um carro com dois cachorros que não paravam de pular no meu colo (além de molhada, fiquei cheia de pelos grudados) me levou até onde eu precisava.
Foi o tempo de chegar na cidade, trocar de roupa, tomar um café e estava pronta para ser Paulete Buck. Mas quem seria Paulete Buck?
Uma coisa boa quando se viaja sozinha em um lugar totalmente desconhecido é essa sensação de que, apesar de nada nem ninguém ser referência para ti, isso faz com que sejamos o que queremos ser sem preocupação com julgamentos e tal. Eu sou mais eu. Essa é o sentimento, ou deveria ser. E, nesse caso, por um momento, eu era Paulete Buck. E, mais uma vez, Alex Supertramp (que na verdade se chamava Chris McCandless) estava comigo. Mas, ao contrario dele que assumiu um outro personagem para encarar a aventura dele, para mim era mais do que claro que, apesar de tudo, eu estava bem com a Camila Stähelin e não precisava assumir nenhuma outra personalidade. Seria Paulete Buck apenas para entrar no ônibus. E de fato, nem precisou... cheguei, coloquei minha mochila no bagageiro, sentei e o motorista nem me perguntou nome ou pediu por passagem ou dinheiro... assim, gente. Entrei, sentei e fui.
Depois de uma viagem com vistas lindas (tirei cada foto linda, que enfim, né?) cheguei a Nelson. Queria muito conhecer a cidade, já que tentei mudar para lá em meu primeiro mês em Taupo. Ainda bem que não o fiz! A cidade é legal, mas é portuária e é preciso caminhar uma hora, EXATAMENTE, uma hora para chegar à praia, que não é lá essas coisas. O que salvou muito foi o albergue que fiquei, o melhor de todos que estive na Nova Zelândia. Parecia muito um hotel, muito bom! O dono é um querido e te pega e te leva onde tu queres a qualquer hora, além de fazer pão quentinho todas as manhãs...
No segundo dia em Nelson decidi fazer uma caminhada de três dias pelo Abel Tasman National Park, uma hora e meia de distância de ônibus. Caminhei cerca de 20 km cada dia (vários deles sem encontrar uma pessoinha se quer) e no caminho encontrei cada praia deserta maravilhosa.... e foi isso, trilhas e praias desertas... lindo, perfeito, paradisíaco. Como não tinha barraca, dormia em huts (são cabanas com cerca de 20 camas e uma cozinha que existem por toda Nova Zelândia). Só é preciso reserva no Departamento de Preservação da região antes de começar a trilha... é super organizado e funciona bem pra caramba. Super vale a pena.
Depois dessa trilha (na qual, no último dia consegui deletar TOOOOODASSSS as fotos da minha trip), me despedi da Ilha Sul. Super me apaixonei pelo lugar. Definitivamente, viajar de carona foi a melhor coisa, tanto para conhecer os lugares quanto pelas histórias e pessoas que conheci pelo caminho... falando nelas, mesmo nos albergues e trilhas, apesar de terem sido poucas as que cruzaram o meu caminho, todas foram muito legais. E, ao contrário de Alex Supertramp que precisou morrer para se dar conta que “a felicidade só é real quando compartilhada”, eu já sabia disso mas depois dessa temporada (super necessária, que não mudaria nada) se já achava que não podia viver sem ser rodeada de pessoas, agora mesmo é que não tenho mais dúvidas. Amo estar no meio do mato, sem dúvida estou muito mais bicho-grilo do que antes, mas somos seres sociais. Quero meu espaço, sim, mas quero pessoas para dividir!