quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

South Island (parte 3): “Hi, I’m Paulete Buck!”

Lembrem que no post passado falei que tinha conhecido gente muito legal em Franz Josef? Então, uma delas foi uma senhora, americana de um pouco mais de 60 anos, super descolada, que estava viajando sozinha e se hospedando em albergues. E daí que conversa vai e conversa vem, ela me perguntou como eu estava viajando e para onde eu iria. Respondi que estava hitchhiking rumo ao Norte. E daí que ela me deu uma passagem de Greymouth (cidade vizinha a Hokitika, para onde segui depois de Franz Josef) para Nelson (meu destino final na Ilha Sul), seis horas e meio de viagem. Assim, ela me deu. Simplesmente! O que eu deveria fazer era estar no dia e hora marcada e dizer que me chamava Paulete Buck!

O ônibus partiria às 13h15 de uma quarta-feira. Acordei em Hokitika e precisava ir para Greymouth, 57km de distância. O problema é que chovia muuuuuuuuuuito e seria difícil tentar uma carona. Sem problemas, tomaria um ônibus. Isso se tivesse passagem disponível. O que fazer?! Bom, não teria jeito se eu quisesse usar o ticket ganho, teria que partir. E daí que mesmo com chuva fui... primeiro tentei me resguardar embaixo de algumas marquises, na esperança da chuva passar. Nada.

Fui andando e ficando completamente ensopada! Mas totalmente. E a mochila que era pesada foi ficando mais pesada... e o povo que não parava, daí mesmo que não parava... chegou um momento que parei no acostamento e pensei “beleza, não tem jeito, vou perder essa passagem, não gastei nada com ela mesmo. É isso, vou voltar, me secar e decidi o que fazer”. Mas não consegui voltar, simplesmente. E fiquei ali, parada, por alguns segundos... e continuei andando... pingando e andando. Sabia que em algum momento alguém pararia. Sempre alguém para em algum momento. E não andei mais que 10 minutos e uma mulher em um carro com dois cachorros que não paravam de pular no meu colo (além de molhada, fiquei cheia de pelos grudados) me levou até onde eu precisava.

Foi o tempo de chegar na cidade, trocar de roupa, tomar um café e estava pronta para ser Paulete Buck. Mas quem seria Paulete Buck?

Uma coisa boa quando se viaja sozinha em um lugar totalmente desconhecido é essa sensação de que, apesar de nada nem ninguém ser referência para ti, isso faz com que sejamos o que queremos ser sem preocupação com julgamentos e tal. Eu sou mais eu. Essa é o sentimento, ou deveria ser. E, nesse caso, por um momento, eu era Paulete Buck. E, mais uma vez, Alex Supertramp (que na verdade se chamava Chris McCandless) estava comigo. Mas, ao contrario dele que assumiu um outro personagem para encarar a aventura dele, para mim era mais do que claro que, apesar de tudo, eu estava bem com a Camila Stähelin e não precisava assumir nenhuma outra personalidade. Seria Paulete Buck apenas para entrar no ônibus. E de fato, nem precisou... cheguei, coloquei minha mochila no bagageiro, sentei e o motorista nem me perguntou nome ou pediu por passagem ou dinheiro... assim, gente. Entrei, sentei e fui.

Depois de uma viagem com vistas lindas (tirei cada foto linda, que enfim, né?) cheguei a Nelson. Queria muito conhecer a cidade, já que tentei mudar para lá em meu primeiro mês em Taupo. Ainda bem que não o fiz! A cidade é legal, mas é portuária e é preciso caminhar uma hora, EXATAMENTE, uma hora para chegar à praia, que não é lá essas coisas. O que salvou muito foi o albergue que fiquei, o melhor de todos que estive na Nova Zelândia. Parecia muito um hotel, muito bom! O dono é um querido e te pega e te leva onde tu queres a qualquer hora, além de fazer pão quentinho todas as manhãs...

No segundo dia em Nelson decidi fazer uma caminhada de três dias pelo Abel Tasman National Park, uma hora e meia de distância de ônibus. Caminhei cerca de 20 km cada dia (vários deles sem encontrar uma pessoinha se quer) e no caminho encontrei cada praia deserta maravilhosa.... e foi isso, trilhas e praias desertas... lindo, perfeito, paradisíaco. Como não tinha barraca, dormia em huts (são cabanas com cerca de 20 camas e uma cozinha que existem por toda Nova Zelândia). Só é preciso reserva no Departamento de Preservação da região antes de começar a trilha... é super organizado e funciona bem pra caramba. Super vale a pena.

Depois dessa trilha (na qual, no último dia consegui deletar TOOOOODASSSS as fotos da minha trip), me despedi da Ilha Sul. Super me apaixonei pelo lugar. Definitivamente, viajar de carona foi a melhor coisa, tanto para conhecer os lugares quanto pelas histórias e pessoas que conheci pelo caminho... falando nelas, mesmo nos albergues e trilhas, apesar de terem sido poucas as que cruzaram o meu caminho, todas foram muito legais. E, ao contrário de Alex Supertramp que precisou morrer para se dar conta que “a felicidade só é real quando compartilhada”, eu já sabia disso mas depois dessa temporada (super necessária, que não mudaria nada) se já achava que não podia viver sem ser rodeada de pessoas, agora mesmo é que não tenho mais dúvidas. Amo estar no meio do mato, sem dúvida estou muito mais bicho-grilo do que antes, mas somos seres sociais. Quero meu espaço, sim, mas quero pessoas para dividir!

South Island (parte 2): “Into the wild”

Em meu último dia em Queenstown acordei cedo porque sabia que partiria, mas não fazia a menor ideia de como e nem para onde (quer dizer, deveria ir para o norte) . Quando estava fazendo meu check out no albergue, a dona me perguntou para onde eu iria e disse que não tinha certeza. Ela me ofereceu uma passagem para Wanaka, uma cidade uns 170 km de distância. Comprei o ticket do ônibus que sairia em 15 minutos. Claro que perdi, né? Voltei no albergue para decidir o que fazer. Um próximo ônibus só em três horas, mas eu não tava nem um pouco afim de esperar. Queria seguir viagem, meu tempo na cidade já tinha dado... Pedi meu dinheiro de volta (eles devolveram!!!!) e resolvi tentar pedir carona... tinha três horas, se rolasse, ótimo, economizaria, caso contrário, voltaria e iria de ônibus.

Confesso que a primeira esticada do dedão não foi assim tão simples. Afinal de contas, uma coisa é pedir carona na Lagoa da Conceição (olha que hoje em dia nem sei se me arriscaria) e outra é fazer isso em um outro país, mas na NZ todos me disseram ser super tranquilo e seguro. Resolvi arriscar.

Depois de uns 50 metros caminhando, a coragem veio e o dedão com ela. Esperei bem menos de cinco minutos e parou um cara super simpático. Disse que não iria para Wanaka, mas me deixou em uma autoestrada onde seria mais fácil de pegar carona. E foi. Ele me largou, dei uns 10 passos e um casal de asiáticos (acho que eram tailandeses, não sei) parou. No que eu estava entrando no carro, parou um outro carro atrás e uma mulher pediu pra eles também darem carona para um francês... 500 metros mais a frente um outro cara pedindo carona. O casal nem hesitou, parou e mais um se juntou a gente.

Depois de muitas curvas (por sinal, quem tem problemas com estradas sinuosas não consegue viajar por aqui. Praticamente não existe estrada plana e reta, é sempre subindo e descendo serra) e paisagens lindíssimas, Wanaka. O lugar é bem menor que Queenstown e Taupo, mas aquela mesma história de lago, com montanhas e neve no cume. Decidi só descansar e caminhar ao redor, sem pressão de saber sobre nada, nem trilhas... E em Wanaka foi isso, meio dia e uma noite. Acordei cedo no dia seguinte e de novo pronta pra colocar o pé na estrada...

Sabem aquele filme “Chocolate”, em que a mulher precisa mudar de cidade sempre que batia um vento?! Então, a vibe se tornou essa. Ia pra cama sem saber o que aconteceria no dia seguinte e, às vezes, acordava certa de que meu tempo ali tinha dado. Colocava a mochila nas costas e ia com a ideia de “vou para onde o primeiro carro que parar estiver indo”.

Quem viu o filme “Into the wild” (“Na natureza selvagem”, na tradução brasileira. O link foi o primeiro do Google, mas a sinopse dá uma ideia boa da história... hehe) talvez entenda melhor minhas divagações daqui pra frente... Tinha assistido o filme em São Paulo, choreiiiii muito e, de primeira, se tornou um dos meus preferidos. Vi de novo em Taupo e ganhei o livro de presente antes de partir. E daí que Alex Supertramp foi meu companheiro de viagem... e viagens. As conexões foram constantes e intensas... Não teria livro mais perfeito para aquele momento.

Dessa vez meu destino eram os glaciares, umas quatro horas de distância de Wanaka. Mas não sabia ao certo quais das duas cidades que há na região, se Fox Glaciares ou Franz Josef. Acho que saí muito cedo do albergue nesse dia, antes das oito já estava na rua e era domingo (mas, claro que não fazia idéia do dia da semana. Um dos caras que me deu carona que me disse). Caminhei quase quarenta minutos e NENHUM carro passou por mim... e nisso eu ia me afastando da cidade, o tempo fechando e a chuva começando a cair fininha.... Só passavam casal de velhinhos (maioria asiáticos – que não param de jeito nenhum) com carrão ou família com o carro lotado. Até que me parou um cara, daqueles bem grandões, dois por dois, que a cabeça vai grudada no teto. Eu tava pronta pra dizer “oi, desculpa, mas eu não me sinto segura contigo!”. Quando ele abriu a porta e junto um sorrisão, tive certeza que era inofensivo. Fazia só um tipo Sherek... Ele seguiria para o sul, naquele momento, mas me deixaria em uma autoestrada... E foram mais alguns quilômetros. Ainda antes de eu descer ele me disse que caso eu não conseguisse carona logo, ele iria no fim do dia para o destino que eu pretendia (e, de fato, no dia seguinte o encontrei no meio de uma trilha), e pararia para mim de novo. Ok, chegaria ao meu destino em algum momento daquele dia..

Depois de uns 10 minutos andando, um gurizão fumando um cigarro, bebendo um café, ainda meio dormindo e reclamando que teria que trabalhar no domingo, parou... Foram só mais uns 20 km, mas quando se pede carona, 1km é sempre 1km... E daí que parei no meio de nada e cada vez mais estava no meio de nada... e caminhando para o nada... e o tempo fechando... subindo e descendo morro e nada.. ninguém passava.

Foi louco quando me vi ali, com minha mochila nas costas, andando pela estrada, sem saber bem ao certo para onde. Primeiro pensei “sou completamente louca”, por questões de segurança, mesmo (brasileira, mulher, sozinha, no meio da estrada, não tinha como pensar diferente)... mas depois de passar essa pira de segurança e tal eu queria só andar. Os carros passavam e eu nem queria que eles parassem. Queria só andar. E isso aconteceu em alguns momentos, não só ali como em outras estradas... e, às vezes, era ruim porque me sentia a pessoa mais sozinha do universo e porque a saudade dos meus e dos que deixei para trás doía muito... mas outros momentos era ótimo. Me sentia tão bem, comigo ali no meu caminho. Só eu e eu... e assim segui, falando comigo mesma, cantando, chorando, rindo. Sim, definitivamente parecia uma louca. Mas não estava nem aí. Me sentia bem...

Foi então que um casal que viajava em uma van parou. Fui sentada por mais de três horas em cima do colchão deles, dividindo espaço com as malas. No que eu entrei no carro, a chuva caiu sem dó nem piedade e continuou assim até chegarmos a Fox. Fiz a trilha com eles (que dava no começo dos glaciares, tipo uma cachoeira enoooorme congelada. Uma viagem, aquela pedra de gelo gigante) e, em seguida, fomos para Franz Josef. Melhor carona, impossível! No fim, fui para as duas cidades que queria. Quando saí do carro, ainda me disseram que em dois dias continuariam a viagem para o Norte e, caso eu quisesse uma outra carona, era só esperar por eles em uma hora tal, num ponto da estrada.

Franz Josef é uma cidade pequena. Pequena, mesmo. 250 habitantes. E tem, exatamente, uma rua principal com três transversais. Fiquei um dia e meio lá. Conheci um povo legal. Fiz umas cinco trilhas (só ao redor do bloco de gelo, já que para colocar o pezinho teria que pagar, no mínimo, 100 dólares por meio dia.

De novo o vento bateu... acordei e não fazia a MENOR idéia de onde ir (dessa vez mais do que antes). Começaria agora a estrada rumo ao litoral norte, mas não tinha nada em mente. Fui para estrada na esperança de encontrar o mesmo casal, mas não foi preciso. Em dois minutos parou um senhor Maori que estava indo para Hokitika, uma cidade costeira. Pensei, é lá mesmo. E daí que o homem foi me dando uma puuuuuuta aula sobre a cultura Maori e a natureza kiwi durante as duas horas de viagem.

Fiquei um dia na cidade e ela super não tem nada. A não ser pelo fato de ser o principal ponto de produção de Pounamu (é tipo um patuá, talismã, que os Maoris usam no pescoço. Eles são normalmente feitos de jade e tem diferentes formatos, com diferentes significados). O adereço costuma ser muuuuuuuuuito caro, mas eu achei o meu por uma bagatela (lindooooooooo!!), exatamente como eu queria, na praia. Tinha um senhor com uma pequena mesinha. E Hokitika foi isso: encontrar meu pounamu! Meio dia e uma noite foi muito mais do que suficiente.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

South Island (parte 1): Isso é real?! Alguém me belisca?!

Para os que ainda não se situaram na geografia do lugar, Taupo fica na Ilha Norte da Nova Zelândia e enquanto morei lá fiz algumas viagens de fim de semana por algumas cidades. Mas o fato é que desde sempre morria de vontade conhecer a Ilha Sul, que todos diziam ser bem mais selvagem. O país tem cerca de quatro milhões da habitantes, sendo que três milhões vivem na Ilha Norte (1 milhão só em Auckland)... entenderam, então, como a Ilha Sul consegue ser ainda mais inabitada, certo?

Cheguei lá por Christchurch. A ideia inicial era passar um dia na cidade e, no seguinte, seguir viagem. Acabei tendo que mudar meu voo e passei apenas uma noite, no aeroporto, já que tinha um voo na manhã seguinte para Queenstown. Eu e mais uns trinta que dormimos lá fomos convidados a nos alojarmos no chão, em um canto bem iluminado e barulhento do aeroporto... Foi então que conheci um alemão que tinha morado nos últimos quatro meses em Queenstown e estava indo para Bali. Ele me deu varias dicas, de albergue, trilhas e o que fazer... Foi ótimo já que a pessoa saiu sem mapa, guia ou coisa parecida. Tinha essas duas passagens e uma outra de volta para ilha norte 15 dias depois. O que faria nesse meio-tempo, para onde ia, como iria, decidiria assim, chegando nos lugares, conhecendo pessoas, me deixando levar... tinha começado bem meu propósito.
Enfim, Queenstown. Gente, o que é Queenstown!?!?!?!?!? É do caralhooo!!!! Minha sensação quando vi a cidade de cima, e mais ainda quando desci, é que estava chegando a uma locação de algum filme. Não pareciam reais aquelas montanhas gigantescas por toda parte. O negócio é impressionante!!! É lindo, lindo, lindo!!!!! Tanto que a impressão o tempo inteiro é que não é de verdade...

Apesar de já ser dezembro e verão, chovia e estava um frio do caramba, que me fez lembrar Taupo assim que cheguei na Nova Zelândia... Minha primeira tarde na cidade foi caminhar ao redor, sentir o clima, e ficar embasbacada com a paisagem... dá muito pra entender porque os brasileiros amam isso daqui (dizem que correspondem a 10% da população do lugar), porque é muito foda!!! Eu não encontrei nenhum, mas também não procurei...
Segundo dia: embora fazer trilha!!!!! Se tem uma coisa que fiz nessa viagem foi caminhar... como eu caminhei... chegava em novo lugar e perguntava por trilhas (com certeza deixei de ver vários pontos turísticos, o que não me arrependo nenhum pouco). Em algumas cidades cheguei a fazer três, quatro em um mesmo dia. Numa dessas, conheci um brasileiro (o único com quem topei) que me disse que o melhor jeito de se viajar é caminhando... enfim, super concordo. O problema é ter tempo para fazer isso, né?! Ainda mais quando se deseja conhecer tanto lugar no mundo...

No terceiro dia fiz aquela que foi a maior gasto de todos até agora. Comprei um tour de dia inteiro para Milford Sound. Não teve muito jeito, precisava ir. O lugar é meio inacessível e para fazer a trilha no parque, que dura uns três dias, é preciso reservar com muita antecendência (uma coisa meio Machu Picchu). Para terem uma idéia até março não tem vaga.
E daí que depois de uma viagem de ônibus de umas quase quatro horas, com cenários que fizeram com que me visse refletida na janela de queixo caído por vários momentos, chegamos a um dos lugares mais maravilhosos que meus olhos já viram. É indescritível, é mágico!!!! Lá peguei um barco que me levou entre paredões GIGANTESCOS e cachoeiras em um caminho labiríntico que depois depois de quase uma hora desembocam no mar... enfim, maravilhoso!!! Só vendo. É difícil explicar...

Sim, seria ótimo colocar uma foto para ilustrar, né?! Mas, aumentando a lista das cabacices que aconteceram com a pessoa na terra dos kiwis, eu consegui a proeza de deletar todas as fotos da minha viagem pela ilha sul em meu último dia de trip. Ou seja, os posts sobre o lugar são sem imagens... sim, eu sei, que estúpida!!! Mas já me torturei o suficiente por isso e, enfim, paciência!