quinta-feira, 4 de março de 2010

É difícil voltar

Chega!!! Preciso fazer alguma coisa. Depois de exatamente duas semanas no Brasil, só agora consegui sentar e escrever (sim, eu sei que esse blog está ridiculamente abandonado!). Não que eu não tivesse tempo ou muito menos tentado umas tantas vezes fazer isso (pra falar a verdade, perdi as contas de quantas vezes comecei esse post...). Mas é que eu não coseguia, simplesmente. Tempo, nesse momento, é só uma desculpa, assim como o acesso à internet. Apesar da dedicação quase que absoluta aos familiares e de precisar de quase uma semana para me acostumar ao fuso horário, tive tempo de sobra para dar as caras por aqui... mas não conseguia. E eu não sei bem o porquê. Mesmo feliz em estar aqui, e com os meus, ainda assim, é difícil...

Sempre falo que ninguém volta para o lugar de onde saiu. De fato, não volta. Tenho muito claro que sou outra pessoa. Talvez por causa disso seja tão difícil encarar a vida aqui de novo. É uma nova Camila, no espaço da velha Camila (e estamos naquela fase de se conhecer, saca?)... de qualquer forma, é um lugar onde conheço os códigos, os cheiros, a dinâmica. Todos falam a minha língua e as pessoas se abraçam... Deveria ser fácil, não? Além do que, voltar significa estar com as pessoas das quais mais senti saudades nos últimos tempos, aquelas que sei que me amam incondicionalmente (e isso é maravilhoso!)...

Mas talvez o medo maior é o de esquecer, deixar pra lá aquele monte de fichas que caíram, aquele monte de decisões que foram tomadas quando eu assumi "isso eu não quero mais, aquilo não é para mim, quero aquilo desse jeito" e entrar em alguma velha lógica que não cabe mais. Junta também o fato de não existirem mais o dormir cada dia num lugar e acordar num outro, o não fazer ideia do que vai encontrar quando virar a próxima esquina, quem vai encontrar da próxima vez que se perder pelo caminho... O fato é que isso tudo me fez cair em um limbo... e não fazer praticamente nada nesses últimos dias! E me dei conta de que escrever aqui, dizer para todos que voltei, mostrar fotos e publicizar o monte de histórias que tenho para contar é terminar de vez com a viagem, com a sensação de "sou dona do meu nariz e faço o que eu quero na hora que eu quero". Só que, por outro lado, é também, reviver aquele que foi o melhor momento da minha vida até agora, permitir que mais um monte de coisas sejam assimiladas e, principalmente, reencontrar um tanto de gente querida. Portanto, meus caros, estou de volta (se é que alguém não sabia) virtualmente e em carne e osso no Brasil!!!!

Ao longo da viagem uns dez posts foram iniciados, alguns terminados, e todos abandonados nesse tempo todo. Primeiro, porque estava viajando em um esquema internet e energia elétrica disponíveis quase nunca e, não adianta, gosto de escrever com calma. Super admiro quem senta e em dez minutos pronto. Mas eu não sou assim. Não tinha nenhum deadline, nenhum editor na minha orelha e nenhuma obrigação de postar em tempo real. E aí o negócio foi passando e desencanei de vez... mas, agora, me empolguei.

A ideia é ir contando, aos poucos, as histórias, muito provavelmente do ponto onde parei... portanto, os poucos leitores que vem aqui de vez em quando e não acham nada, podem começar a aparecer com mais frequência que tenho um monte de coisas para contar.


terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Uma ilha de presente de aniversário!!!!!!



Quando eu ainda estava na Nova Zelândia, Anita me enviou uma mensagem dizendo que tinha comprado meu presente de aniversário e que eu iria a amar... claro que não fazia a menor idéia do que poderia ser e nem de perto imaginava o quão fantástico seria (Obrigada negaaa!!!). Mesmo quando cheguei na Austrália, apesar da quase insistência dela em me contar (a menina não é nada ansiosa) eu preferi a surpresa... E daí que chegou a hora da revelação e soube que passaríamos um final de semana em Fraser Island, uma ilha mega preservada. Fiquei ainda mais animadíssima quando soube que lá só poderíamos ir de 4x4... mais uma vez, me senti de volta a minha infância. Me lembrei de quando minha mãe participava de rali de jeep e nossos finais de semana era ir a família toda para o meio do mato com ela para assistir as provas.

Deixamos nossa van em Rainbow Beach, onde nos juntamos a um grupo de mais sete pessoas. O guia era ótimo, super empolgado, morou por um bom tempo na ilha e sabia tudo. Fizemos trilhas, fomos a lagos de água transparente e areia branquíssima (como nunca tinha visto antes na vida), andamos nas dunas e deixemos nos levar pela correnteza de um córrego. Ficamos em um alojamento super legal e até carne de canguru comemos (adorei o gosto!).

E daí que para dar ainda mais emoção ao passeio, além de tudo as amigas viram dingoes de pertinho (mais de cinco!). Demos de cara com os bichanos quando resolvemos dar uma volta na praia para aproveitar o pôr-do-sol. Eles são uns cachorros selvagens que só podem ser encontrados naquela ilha. Quando ainda estávamos dentro do carro , o guia deu alguns conselhos e tal... mas a ficha caiu mesmo quando chegamos no nosso acampamento e vimos que todo ele era protegido por cerca elétrica. Me senti na ilha de lost, com a cerca supersônica... E o negócio pareceu ainda mais sério quando fomos desbravar a ilha e encontramos alguns avisos espalhados para tomarmos cuidado com eles. Passado o susto (que não nos permitiu fotos publicáveis), saímos da ilha nos sentimos as mais sortudas por ter encontrado com eles.


O único passeio com guia das amigas

Hora do descanso

Areia branquíssima e água transparente

Entrada do alojamento: cerca para proteger dos dingoes

Sendo levadas pela correnteza

A caminho do lago

Lago Wabby

Mais um integrante para o grupo

A decisão é coletiva... e até a van participa

A ideia é só virar em lugares convidativos, ok?

Já falei que nossa van também decide onde devemos parar? Pois então, a moça é de opinião... saímos de Brisbane dispostas a virar na primeira placa onde o nome nos apetecesse. E foi então que ela decidiu que queria ir para Deception Bay (!!!!!!). Nada promissor, não?! Na verdade, a bichinha começou a esquentar, e como as amigas são super precavidas, resolveram parar no primeiro lugar que foi possível para dar uma checada no negócio. Não era nada, não se preocupem, estava tudo bem... só tipo, mesmo. Queria era ficar por ali...

Ajuda para verificar a saúde da van

Acabamos parando em um McDonalds e lá mesmo conhecemos uma senhora simpatiquíssima que nos sugeriu irmos para Bribie Island, uma ilha nada turística que ficava perto. Lá fomos nós... chegamos em uma parte da cidade que está começando a ser urbanizada. Loteamento com casas recém-construídas para todos os lados e nem um lugar convidativo para estacionarmos nossa casa (aquela coisa fria, sem vida, feita de lego, sabe?!). Finalmente, encontramos um casal na rua que nos sugeriu irmos para o outro lado da ilha, uma praia chamada Woorin. E fomos. Já era tarde, demos uma rodada para o reconhecimento da área e achamos o nosso lugar.

O dia seguinte foi uma volta à infância... e, por sinal, como a costa australiana lembra as praias do quando eu era criança.... impressionante!!! A praia era de areia fina, ótima para fazer castelinho. E ele foi em formato de vulcão, em homenagem à (minha querida) Nova Zelândia. O lugar não era nada turístico, sem muita gente, só com algumas famílias que vinham preparadas para a farofa... delícia!



Nosso castelinho de areia

Depois de encher o biquini de areia (que nunca mais vai sair) de tanto se rolar no chão (sim, coisa da rapaz pequeno), o tempo começou a fechar e decidimos levantar acampamento. Quando estavamos nos aproximando da nossa amiga, vimos que ela tinha um papelzinho grudado em uma de suas "sobrancelhas"... na hora as amigas se olharam e falaram "Putz, levamos uma multa!". Nada, gente, aqui na Australia (pelo visto) a polícia passa fazendo a ronda e não deixa "recadinho" só para quem faz coisa errada e o que recebemos foi um "parabéns" por estarmos bem estacionada (em lugar permitido!) e com as portas todas trancadas.

Não adianta esfregar, essa areia vai voltar para o Brasil

Desempenho exemplar da nossa amiga

Paramos no correio para mandar alguns postais (que parecem nunca chegarem aos seus destinos, não é mesmo família?) e pedimos dicas de algum outro destino. Já tínhamos visto o suficiente ali, era hora de voltar a rodar... Não sem antes dar uma passada no supermercado, onde decidimos trocar o almoço por um pote de 2 litros de sorvete (foi um negócio em tanto... só 2 dólares!!!), e ainda conhecemos um senhor que ficou um tempão conversando com a gente e dando dicas mil (enquanto o sorvete derretia dentro do carro).


Detonando um pote de sorvete

Com alguns nomes em mãos, voltamos à estrada. Entramos em Caloundra, sem saber direito aonde ir. E foi então que nossa companheira de rodas decidiu pela gente... é que a terceira marcha não engatava mais de forma alguma, viramos a esquina e chegamos a uma prainha super gostosinha, Kingsbeach. A areia dividia espaço com umas pedras que formavam tipo um tapete no chão. Lindo!!!! Em seguida pararam outras vans amigas e foi uma das noites que dormimos mais pertinho do mar...

As amigas em Kingsbeach

Andando por cima da pedra

Esperando a noite chegar

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A van das amigas

Depois de quase dez dias em Byron, Anita e eu começamos nossa viagem pela Austrália. Alugamos a van do vizinho para primeira parte de nossa trip, que vai de Byron Bay até Raibonw Beach, ou seja, seguiremos pela costa leste rumo ao norte. Só que antes de colocar o motor para funcionar foi preciso dar uma ajeitada (ou melhor, uma boa limpada) naquela que seria nossa casa pelos próximos dias... É que a bagaça (até aquele momento não tinha como chamar de nada diferente) tinha um cheiro de lavagem (sabem, comida de vaca e porco?), que fazia com que nos sentíssemos em uma estrebaria (isso para não dizer chiqueiro)... Claro que o vizinho (quase hippie, como definiu Anita) super não percebe ou não se importa com isso. Por sinal, ele limpou (disse) o carro para nós!!! Querido, né? A intenção até foi boa, mas não teve jeito, as prendadas meninas tiveram que dar uma melhorada no serviço.

Começamos de leve, com esponjinha e pano úmido, mas quanto mais limpávamos mais a sujeira ia brotando de todos os cantos e buracos imagináveis... E daí que a dona Lícia (a senhora minha mãe) baixou... olhei para Anita, que na mesma hora parece ter encarnado a dona Margaret (a senhora sua mãe) e sugeri “Vamos jogar água aqui dentro?!?!?”. “Demorou”, disse ela... e seguiu-se sábias frases do tipo “Se é para fazer, vamos fazer direito”, ou “Somos pobres, mas limpinhas”... foi então que descobrirmos que o mau-cheiro vinha de uma esponja podre grudada na lona que cobre a parte de trás do carro. Fizemos o favor de arrancar o negócio fora (lógico que sem autorização)... e depois de horas de esfregação com muita água, detergente e desinfetante nossa van até que ficou (quase) cheirosa. Podíamos agora nos encostar em qualquer parte do seu interior.


Tirando a esponja podre

Sem mapa ou guia (o que eu achei ótimo, embora a Anita não estivesse muito contente com isso), mas com um estoque considerável de incenso, fomos finalmente para a estrada. A primeira placa que nos fez querer para foi a que indicava para Kingscliff (Anita lembrou que a Parissa havia comentado sobre o lugar). Mas acabamos parando antes, em uma reserva chamada Cudgen, em Cabarita Beach.

Em Kingscliff

Como já estava escuro, resolvemos ficar por lá e procuramos um lugar onde também tinham outras vans e perto de um banheiro público para primeira noite... a chuvinha que caiu durante a madrugada fez com que a temperatura dentro do carro não atingisse a de um forno como o esperado. Até deu para sentir um friozinho e puxar o saco de dormir... mas pouco depois das 8h o sol expulsou a gente da cama e quando saímos do carro, o estacionamento lotado e a caminhadinha até a praia nos mostraram que estávamos num grande point do lugar, lotado de surfistas... depois do café da manhã, desbravar um pouco o local e tomar um banho de mar delicioso, era hora de continuar em frente.


Desbravando Cabarita Beach

E foi aqui que dirigi pela primeira vez do lado esquerdo da rua. Achei que passar a marcha com mão esquerda seria o ó, mas descobri que o mais estranho é guiar no que para mim ainda é a contra-mão... de qualquer forma, foi beeeem mais tranquilo do que imaginava. Partimos de Cabarita para Spring Brook (e chegamos sãs e salvas!). O lugar é uma reserva nacional onde fizemos uma trilha de 4km lindíssima, com várias quedas d’água e mil paradas para fotos.


Se preparando para trilha em Spring Brook

Por trás da cachoeira

De lá seguimos para Brisbane. De volta a uma cidade grande (e olha que nem é tão grande assim, mas já foi o suficiente para as amigas, que moraram os últimos meses em lugares minúsculos, se sentirem completamente perdidas em meio a tanta informação visual e poluição sonora). Como as pessoas aqui estavam sem mapa foi preciso mais de duas horas rodando (com direito a uma empurradinha na van, que resolveu dar uma falhadinha de leve) até encontrar o endereço da casa do amigo em que ficaríamos hospedadas. Menos de um dia na confusão urbana foi mais do que suficiente... acordamos e partimos...

Austrália: o abraço tão esperado!

Ceia de Natal na Nova Zelândia. Madrugada no aeroporto. Manhã do dia 25 na Austrália. A ansiedade era enorme. Afinal depois de quase cinco meses encontraria uma amiga... daquelas que falam a mesma língua (mas, também, nem precisa porque te entende só com o olhar) e qualquer coisa é motivo para acessos de risadas sem fim.

Mas claro que a amiga fez a amiga esperar... todos que estavam no meu voo foram indo embora, o desembarque vazio e nada da amiga chegar. Não pude acreditar quando vi a Anita DIRIGINDO (genteeeee!!!), e do outro lado da rua (por sinal, ela já dirigiu mais aqui que em toda sua vida no Brasil, já até disse que vai voltar querendo pegar a mão contrária)... Enfim, e daí que desce do carro, abraça, pula, faz aquele escândalo para sempre... foi emocionante!

Fomos direto para casa, encontrar o Carl e a Parissa (casal de músicos amadíssimos com quem Anita morava). E até troca de presentes teve. Hora de ir para praia, afinal fazia muito calor e estávamos na Austrália! Num primeiro momento, Byron Bay me lembrou a Praia do Sonho na minha infância... aquela areia branca, fina e macia como farinha de trigo. Sem construções na beira da praia e restinga preservada... claro que mais perto do centrinho (uma graça, por sinal) o cenário muda um pouco.

Almoço de Natal com Anita, Parissa e Carl


O melhor presente de Natal direto do Brasil... obrigada Jaque e Jade!!!


Anita e Camila pela primeira vez juntas em Byron Bay

Como a Anita precisava trabalhar (como garçonete, ops, sub-gerente em um restaurante de comida oriental e mandando muito bem, diga-se de passagem) durante a noite, os dias até começarmos nossa viagem propriamente dita se seguiram mais de preguiça e aproveitando a casa e a companhia do Carl e da Parissa. E aí que vi canguru pela primeira vez (de longe, mas agora sim sinto que estou na Austália), Anita cozinhou sua primeira feijoada (uma delícia), fiz um empadão de frutos do mar (senti falta da Jade para me ajudar a decorar), tivemos um jantar chiquérrimo no restaurante que amiga trabalhava (geeeente, foi um desbunde... comida deliciosíssima), e viramos o ano oficialmente.


Isso acontece quando a pessoa come lagosta pela primeira vez... não disse que o jantar tinha sido chique?!

Empadão de frutos do mar

Durante todo o tempo em Byron me senti em casa e acolhidíssima. Obrigada Anita, Carl e Parissa. Foi um grande abraço... dias de descanso, conforto, boa comida, música constante e agradável e conversas madrugada adentro regadas a muitas gargalhadas.

A casa musical de Carl e Parissa

Pulando as sete ondas... feliz 2010!!!!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Feliz Aniversário Mariiii!!!!!



A Mari é minha amiga há quase quinze anos!!! Sim, a idade está passando e pesando! Nos conhecemos na escola, estivemos juntas toda a adolescência e viramos adultas ao mesmo tempo. Passamos por profundas transformações e compartilhamos muitas experiências. Ela, literalmente, me segurou para que eu não caísse nos piores momentos da minha vida, mas também gargalhou comigo milhares de vezes até chorar... Mesmo que nossos caminhos teimem em tomar direções completamente contrárias (profissionalmente, geograficamente...), nós sempre damos um jeito de saber uma da outra e de compartilhar (mesmo que virtualmente).

Mari, se não sabes, acho que é um bom dia para te dizer que és a melhor amiga que alguém pode ter, sempre... uma amiga que coloca a amizade em primeiro lugar. Muitas vezes deixou o namorado de lado e, ainda hoje, consegue administrar a vida de casada e com filho pequeno só para bater um papo.

Minha querida, tu sabes o quanto te admiro e quanto te amo, né? Pela tua lealdade, tua sinceridade nua e crua, tua coragem, tua determinação... gosto bastantão de ti assim bem do jeitinho que tu és...

Muitas felicidades hoje e sempre. Mesmo que não possamos nos encontrar no Brasil nesse ano, logo logo (e tenho certeza de que vai ser quando menos esperarmos) nos veremos pessoalmente de novo... em algum lugar desse mundão, que é grande mas também é pequeno. Aproveite bem muito o calor dos trópicos e dos teus.

PARABÉNS, FROG!!!!

Beijo grande e abraço apertado desde o outro lado do mundo...


domingo, 3 de janeiro de 2010

O adeus à Nova Zelândia e um balanço do ano



Depois de dormir um pouco mais de uma hora na noite de Natal, acordei no meio da madrugada pronta para esperar o táxi que me levaria até o aeroporto... morrendo de medo que ele não aparecesse, afinal eram 3h da manhã do dia 25. Mas ele chegou.

Aquela madrugada de Natal parecia muito mais dia 31 de dezembro. Não pelo cenário, afinal aeroporto (que estava lotado!) nada tem a ver com praia e fogos de artifício, mas porque partir da Nova Zelândia representava o fim de 2009. E em vez de pular as sente ondas à meia-noite, vi um lindo nascer do sol da sala de embarque... e com ele, para mim, 2010, um novo ano, um novo lugar, um não-fazer-ideia-alguma do que vem por aí...

Iniciei 2009 com o principal objetivo (prático) de aprender inglês, mas naquela época nem imaginava sair do país. Já no dia do meu aniversário (em janeiro) fiz um teste de nivelamento e comecei no nível 1, básico do básico... fiz um intensivo de férias e, depois, em março comecei um regular.

Nesse momento, não conseguia parar de sonhar com as minhas férias, as primeiras depois de cinco anos sem folga. E os planos foram muitos. Comecei indo para Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão (a parte do Nordeste que me falta conhecer)... depois disso, decidi que iria para Machu Picchu e fui passando por Bolívia, Argentina e Chile (até um Guia eu comprei!!!)...

Eis que minhas férias foram marcadas, começariam dia 5 de junho. Exatamente um mês antes fui demitida. Assim, do dia para noite. Cheguei para trabalhar e em menos de duas horas saí de lá com a baixa na minha Carteira de Trabalho. O engraçado nessa situação, que poderia me tirar totalmente o chão, foi que ela se tornou o momento em que me senti mais acolhida e querida por tanta gente desde que tinha chegado em São Paulo. E o que poderia ser encarado como o pior de 2009, não tenho dúvidas de que foi o melhor...

Na mesma semana da demissão, tinha uma passagem para Florianópolis... fui para casa dos meus pais para pensar em novos rumos. Quando estava lá recebi um telefonema de um editor me falando sobre uma vaga. Conversa vai conversa vem, começamos a falar sobre viagens, passar um tempo fora do país... e o telefonema que seria para tentar um novo trabalho se transformou na minha vinda para Nova Zelândia.

Em menos de dois meses decidi país, cidade, curso e tempo que ficaria (que foi aumentando e aumentando)... assim sem pensar muito. Saí do apartamento onde morava em São Paulo, vendi praticamente todas as minhas coisas e guardei minhas panelas e roupas na casa da minha mãe. Queria vir sem nada me prendendo em lugar algum...

Vim de peito aberto, disposta a viver tudo que tinha direito. E não tenho dúvidas que vivi. Em muitos momentos foi muito difícil. Acho que resignificar solidão e abraço foi um dos meus grandes aprendizados... Já tinha experimentado a solidão de diversas maneiras... uma das formas mais clássicas foi morando em uma grande cidade. Mas nada como sentir isso no meio do mato. De certa maneira, quando estamos em uma grande cidade estamos engolidos por uma lógica de um monte de coisas que precisamos fazer e, eventualmente, é possível esquecer que se está sozinho. Só que aqui muitas vezes éramos só eu, a estrada (diga-se de passagem a única coisa que me ligava a civilização) e a natureza. Nada, nem ninguém mais... não havia nenhum escape. Foi preciso encarar de frente a solidão. E eu o fiz. Por muitas vezes senti (fisicamente e dolorosamente) que meu corpo era só saudade... da minha família (dos meus pequenos), dos meus amigos, dos que foram ficando pelo caminho...

A Nova Zelândia, para mim, é um lugar bucólico, nostálgico, paradisíaco... Tudo é tão gigantesco, preservado, inabitado... às vezes me sentia tão pequeninha, outras tão parte daquilo tudo. E assim fui mundando... Melhorei meu inglês consideravelmente, vi neve e outros tantos lugares paradisíacos, únicos e inesquecíveis, experimentei e gostei de novas maneiras de viajar, conheci gente (querida!) do mundo inteiro... caí, me machuquei, chorei e ri... tudo muito e bastante. Aprendi com isso tudo... que somos um fonte inesgotável de lágrimas, de força, de recomeços (se assim quisermos). Aprendi que menos quase sempre é mais, que criamos necessidades por coisas totalmente descartáveis e complicamos tantas outras sem nem sabermos ao certo o porque. Aprendi que sou muito mais tátil do que imaginava e que um verdadeiro abraço, desses dados com vontade, é a melhor coisa do mundo. Sim, saí da Nova Zelândia mais desapegada do que vim e ainda mais certa de que o mais importante que temos são as pessoas que amamos, aquelas que podemos chamar de nossas!